Em suas rodas de conversa, alegria, história e mitos
Motivado
pela alegria, liberdade, coragem e jeito nômade de viver, o povo cigano teria
tido origem na Índia, por volta do século 16 a.C, e a partir daí foi migrando a
vários países. Passaram pelo Egito, Grécia, Irã, Ásia
Ocidental, Romênia, e já no século 15 podiam ser encontrados por toda a Europa.
Enfrentaram o Holocausto nazista e a Inquisição. Perseguidos, excomungados,
tachados de bruxos ou odiados pela sociedade, eles sobreviveram graças às forças
da sua alma indomável. Força essa que não lhes faltava nem a beira da morte,
quando aguardavam o extermínio com palmas e cantos.
Os ciganos chegaram ao Brasil e também a
outras colônias como Angola, Cabo Verde, Goa e São Tomé Príncipe, desde o
período colonial. Vieram deportados de Portugal para trabalhar em atividades como
ferreiros e ferramenteiros. Aqui no país tupiniquim, os primeiros a pisarem o
solo foram os do grupo Calon. Eram católicos, mas conheciam os mistérios da Mãe
Natureza e sabiam que os ancestrais podiam se comunicar, apesar de habitarem
outros mundos. Depois foi a vez dos ciganos Roma, que vieram ao país no contexto da
imigração européia, nos séculos XIX e XX. Como ciganos degredados,
eles eram vistos a partir de estereótipos negativos, como ladrões, agitadores e
místicos.
A bandeira é um dos símbolos sagrados dos ciganos
Por onde passavam, misturavam sua cultura, crença e jeito de ser com a
de outros povos pelas terras afora. Conhecidos também como Os Filhos do Sol –
porque saíram do Oriente para o Ocidente, acompanhando o movimento do Sol –
eles tiveram como idioma o romani, com traços de uma língua chamada
sânscrito, que era falada na Índia. Cheios de cores, símbolos e magia, os
ciganos carregam ícones que marcam sua trajetória. Violino, pandeiro,
leque, xale, medalhas, ferradura, fitas coloridas e punhal são alguns deles. Aliás, a história da
leitura de mãos no ocidente foi formada pela história dos ciganos.
Tela de Vicent Van Gogh: 'Acampamento de Ciganos'
Em suas rodas de conversa, geralmente acompanhadas de
música, história, mistério e mitos, os ciganos chegaram a ser retratados por
romancistas justamente por valores como coragem, simplicidade, contato com a
natureza e liberdade. Miguel de Cervantes, com a novela ‘A Ciganinha’, e Vitor
Hugo, com o personagem Cigana Esmeralda, são alguns deles.
Apesar de não haver registro oficial na História
sobre sua origem, hoje também não há estatística sobre o número atual de
ciganos. Mas sabe-se que eles podem ser encontrados em todo o
território brasileiro, nas diferentes classes sociais e profissões. Muitos
deles alcançaram mobilidade social na sociedade brasileira, mas não abandonaram
sua identidade étnica. Nem perderam o destino de caminhar pela vida e o desejo
de ir até o final do mundo e depois voltar. Optchá!
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